Termina seu café da manhã, arruma a gravata, pega sua pasta e chama as crianças: dois garotos e uma menina, todos alegres (embora ainda com um pouco de sono), está na hora de ir, vai deixar as crianças na escola antes de seguir para o trabalho, dá um beijo na esposa e outro em sua mãe que está empolgada com um programa de culinária na sala (e ela cozinha como ninguém!), antes de sair olha para elas novamente e repara como estão felizes e especialmente lindas nesse dia. Lá fora um sol tímido mas animador , acena para o vizinho que está correndo em seu exercício matinal, e para a vizinha que está aguando as plantas, abre a porta do carro, as crianças entram, colocam o cinto e pelo sorriem para o pai pelo espelho , segue em frente, ao chegar no colégio um beijo em cada filho com um caloroso abraço. Feliz, tão feliz que seu rosto está iluminado, tudo está sincronizado, tudo dá certo, e até quando a secretária esbarra acidentalmente com uma xícara de café ele surpreende-se mas sorri, ela pede mil desculpas e ele diz amigável: tudo bem, mas seja cuidadosa ok... O trabalho para ele não é um trabalho, é algo que faz naturalmente, gosta realmente disso, embora as férias com a família sejam indispensáveis. Ver as crianças crescerem, ensinar bom valores a elas, e depois dos filhos criados, o sossego total...que nada! os netos trariam novamente agitação alegria á casa.Felicidade plena.
Mas... tem alguém chorando, ele olha para os lados procurando de onde vem esse som, a sim agora ele vê, uma garotinha tentando engatinhar, ele a pega e põe no colo, nesse momento as paredes de sua sala vão aos poucos se transformando em sujas paredes de alvenaria, sua mesa é apenas uma placa de madeira que ele tinha no colo, e o homem um garoto de 11 anos cuidando da irmazinha que chora pois a fome a deixa inquieta, a mãe foi a luta em mais um dia sob sol ou chuva ela nunca desiste de trazer o fruto do seu esforço para casa, pois os filhos dependem disso para sobreviver, o garoto não vai a escola pois precisa cuidar da irmazinha durante todo o dia, é triste, o ultimo punhado de farinha da lata ele serve a irmã e depois de tomar um copo de água ela adormece em seu colo, e ele sonha mais uma vez, transforma sua casa humilde em uma casa aconchegante, segura e cheia de felicidade, ainda não almoçou pois já não há o que comer, a mãe vai trazer mais tarde quando voltar do trabalho, mas tudo bem, por enquanto ele foge da realidade e se conforma em alimentar-se de sonhos.